sexta-feira, 19 de junho de 2009

Escolas de samba mirins desfilam no Rio

Na sexta-feira de carnaval, o sambódromo do Rio de Janeiro é interditado para os adultos. Das 17h até a meia-noite, cerca de 40 mil crianças e adolescentes fazem um desfile com toda a pompa e circunstância das escolas de gente grande.

Abertas ao público, as arquibancadas do sambódromo lotam para ver os pequenos sambistas.

Dezesseis agremiações carnavalescas mirins passam pela Marquês de Sapucaí, todas compostas por garotos e garotas com idades que variam de cinco a 17 anos.

– Desfilar no Sambódromo é um aprendizado que marca a vida de qualquer um. Essas crianças nunca vão esquecer isso – afirma Edson Marinho, presidente da Associação de Escolas de Samba Mirins do Rio de Janeiro (AESM-Rio), que organiza a festa.

No desfiles das escolas de samba mirins, crianças e adolescentes são responsáveis por quase tudo. Até o samba-enredo é composto por eles.

Como nas escolas “grandes”, os sambas são escolhidos em disputas nas quadras das escolas, quando os jovens compositores apresentam seus trabalhos e a comunidade da escola elege o vencedor.

Embora na forma se pareça bastante com os desfiles oficiais, muitas escolas de samba tentam preservar o desfile mirim como um espaço infanto-juvenil.

- Nunca gostei de crianças vestidas de adulto. As fantasias e adereços da nossa escola são de crianças. Precisamos lembrar que aqui as crianças são as protagonistas e o espetáculo também é assistido principalmente por crianças – argumenta Ricardo Dias, presidente da Estrelinha da Mocidade.

Além de realizarem um espetáculo à parte no carnaval carioca, os desfiles mirins são vistos como espaços de formação para os sambistas do futuro e locais de descoberta de talentos.

- Tem toda uma geração de sambistas que passaram pelas escolas de samba mirins. O Zé Paulo, intérprete da Caprichosos de Pilares; o Tinga, intérprete da Vila Isabel; as porta-bandeiras Marcela Alves, da Mocidade, e Lucinha Nobre, da Unidos da Tijuca; o sambista Dudu Nobre. Todos passaram pelas escolas de samba mirins – comenta o presidente da AESM-Rio.

Ricardo Dias, da Estrelinha da Mocidade, vai ainda mais fundo e diz que a realização dos desfiles mirins “é uma forma de preservar a cultura do samba”.

- O desfile do Grupo Especial virou um negócio. No desfile mirim isso ainda não chegou. Essa é uma iniciativa para preservar futuro do samba – afirma.

Há, inclusive, todo um esforço de dar visibilidade aos sambistas e passistas formados nas escolas, logo que é proibida a participação deles após completarem 18 anos.

Para divulgar o trabalho dos garotos, os samba-enredos das escolas mirins são compilados anualmente em CD e vendidos nas quadras das escolas e no site da AESM-Rio.

Por assumirem a responsabilidade de menores, há todo um sistema de regras para garantir a segurança dos participantes, feito em conjunto com o juizado de menores.

Só desfilam crianças entre 5 e 17 anos, matriculadas na rede de ensino, que tenham autorização dos pais e estejam devidamente identificadas. Além disso, é exigida a presença de um adulto para cada grupo de 10 crianças.

Há também toda uma série de normas para o relacionamento das crianças e carros alegóricos e outros elementos do desfile.

A AESM- Rio tem ainda requisitos mínimos para cada escola participar do desfile, como: levar no mínimo mil componentes; ter duas alegorias, 30 baianas, 100 ritmistas, 30 passistas e cumprir quesitos como mestre-sala e porta-bandeira e comissão de frente.

Este ano, o desfile das escolas de samba mirins é transmitido ao vivo pela internet (link no site da AESM-Rio). Para 2010, o plano é mais ousado: o presdidente da Associação de Escolas de Samba Mirins me garantiu que está em negociação a transmissão via TV aberta.

Origem

A primeira escola de samba mirim foi a Império do Futuro, associada ao Império Serrano e fundada em cinco de agosto de 1983. Desfilou pela primeira vez no carnaval do ano seguinte.

Em 1984, surgiu o Império das Princesas Negras, uma escola que não existe mais e deu origem à Infantes do Lins. Naquele ano, as crianças da comunidade Lins de Vasconcelos assumiram completamente a responsabilidade pela escola, produzindo as fantasias, adereços e tudo o mais necessário para o desfile, que aconteceu ainda em dezembro do mesmo ano.

O Império das Princesas Negras inspira, até hoje, o desfile das escolas mirins, permeado pela de protagonismo infanto-juvenil.

A partir de então, surgiram várias escolas, muitas tendo por trás escolas-mães. Mangueira do Amanhã (Mangueira), Filhos da Águia (Portela) e a Herdeiros da Vila (Vila Isabel) são alguns exemplos.

Também surgiram escolas mirins que não possuem escola-mãe, como a Corações Unidos do Ciep e a Mel do Futuro.

Em meados da década de 80 desfilavam na avenida Rio Branco. A partir de 89, passaram para o Sambódromo do Rio e, desde 2000, os defiles ocorrem na sexta-feira de carnaval.

As escolas de samba mirins são consideradas por muitos um trabalho social, porque lá também oferecem uma série de cursos e outros tipos de assistência às crianças e à comunidade.

– O desfile é a coroação do trabalho social que fazemos durante o ano inteiro – afirma Ricardo Dias, da Mocidade.

(Fotos: Arleson Rezende e Diego Mendes)

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